Mesmo com programas sociais, região de Ribeirão tem 7.163 miseráveis

No núcleo Vida Nova, uma das favelas mais carentes de Ribeirão Preto (313 km da cidade de São Paulo), no Jardim Marchesi, um barraco de madeira de apenas um cômodo é o abrigo para Odete Francisca, 51, e três filhos.

As quatro pessoas sobrevivem com R$ 200 que Odete ganha em faxinas, duas vezes por semana, e mais R$ 38 do Bolsa Família. “Para não faltar comida, às vezes fico sem remédio para as pernas. Tenho muita dor”, disse.

A renda baixa coloca Odete entre os 1.134 miseráveis em Ribeirão, uma das cidades mais ricas do país — cujo PIB supera o de 13 capitais.

Mesmo com os avanços em programas sociais como o Bolsa Família, ainda há em toda a região 7.136 pessoas na faixa da miserabilidade. São indivíduos que, dividindo a renda da casa e incluindo o Bolsa Família, vivem com menos de R$ 70 por mês.

Os 7.136 miseráveis concentram-se nas 20 cidades mais populosas da região, segundo dados do plano “Brasil sem Miséria”, do MDS (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome).

Eles equivalem a 4% dos 62,2 mil beneficiários do Bolsa Família. A partir de março, eles receberão verba extra para deixar os R$ 70 per capita.

Mas segundo o próprio governo, o número de miseráveis nas cidades é ainda maior.

Moradores de rua e catadores de papelão estão entre os “miseráveis invisíveis”, como disse a presidente Dilma Rousseff, ao anunciar na última semana mais R$ 773,7 milhões ao Bolsa Família.

Muitas sem lar fixo, essas pessoas nunca entraram em listas oficiais da prefeitura para receber subsídios.

Prefeituras ouvidas pela reportagem, como a prefeitura de Ribeirão Preto e Franca (400 km de São Paulo), disseram que ampliaram as visitas de assistentes sociais às casas de famílias com maior vulnerabilidade.





“Mas muitas vezes não há ninguém ou o usuário é chamado à prefeitura para se cadastrar e não comparece”, diz Gisele Costa, da área da Assistência Social de Ribeirão.

MAIS POBRES

Ao contrário das demais cidades, onde nos últimos três anos caiu o número de pessoas na miséria, Bebedouro (381 km de São Paulo) e Monte Alto (356 km de São Paulo) registraram alta de pessoas nessa faixa.

Para a assistente social Leila Freitas, de Monte Alto, são casos de trabalhadores rurais — colhedores de laranja, por exemplo — que na entressafra ficam sem emprego na cidade de Ribeirão Preto. O mesmo justificou Bebedouro.

Segundo a secretária-adjunta de renda e cidadania do MDS, Letícia Bartholo, os maiores desafios das prefeituras para “encontrar” os mais miseráveis na zona rural está na dificuldade de deslocamento.

Já nas cidades, áreas mais violentas podem ser empecilhos para acessar os mais carentes.

INVESTIGADOS

Possíveis fraudes ou informações do indivíduo de uma renda que, na verdade, é abaixo da real são investigadas, segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

No último domingo (24), a reportagem relatou o caso de uma senhora do estado do Tocantins, na condição de anonimato, que confessou que “omitia” parte da renda para continuar no Bolsa Família.

Segundo Letícia Bartholo, do MDS, além de monitorar alterações atípicas no cadastro único, é possível receber denúncias de má-fé pelas prefeituras, ouvidoria do governo ou CGU (Controladoria-Geral da União).

Por outro lado, há casos de pessoas que, ao melhorarem de vida, devolvem recursos de programas como o Bolsa Família por conta própria.

Fonte: Bol.com.br





Deixe seu comentário